Lean 4.0

Carlos Bastos – Mar/21

Sócio diretor 55 PRO Consulting

A quarta revolução industrial, ou Indústria 4.0, é caracterizada pelo aumento significativo do uso de soluções tecnológicas, pela integração da tecnologia de informação nas operações industriais e pela ideia de que essas tecnologias se comunicarão em tempo real, o que nos faz pensar sobre os impactos que essas inovações terão na gestão.

Em função disso, o sufixo 4.0 passou a ser muito utilizado de uns tempos para cá, incluindo a denominação “Lean 4.0”, relacionando ao conceito de Indústria 4.0.

Lean e Indústria 4.0 têm similaridades.

Quanto mais as empresas adotam as inovações tecnológicas em seus processos, mais conseguem agilizar e compreender as necessidades de seus clientes, que é um dos principais focos do modelo de gestão Lean.

Outro aspecto, a cultura de melhoria contínua e busca da perfeição presente na produção enxuta envolve diretamente as vantagens e benefícios que a tecnologia apresenta nos processos industriais.

A tecnologia permite uma análise mais aprofundada do negócio, identificando gastos desnecessários, reduzindo custos e otimizando a gestão, permitindo produzir mais, em menos tempo e com menos recursos, aspectos inerentes ao modelo de gestão Lean.

Penso que a denominação “Lean 4.0” pode induzir ao erro de se achar que isso significa uma revolução nos conceitos e práticas Lean.

Esse meu pensamento veio de encontro a um post que li recentemente, o qual usarei como referência para discorrer um pouco mais sobre isso.

Lean diz respeito a um novo modo de pensar. As tecnologias da Indústria 4.0 permitem obter melhores informações, com maior rapidez, que podem ajudar as pessoas a tomarem melhores decisões, mas não as ajudam a pensar diferente, como está implícito no pensamento enxuto.

A migração para a indústria 4.0 requer que as empresas analisem, melhorem e padronizem seus processos, visando obter o máximo de eficácia nos resultados com a implantação das tecnologias habilitadoras. Como sabemos, o Lean tem as metodologias e as ferramentas para atuar sobre os processos.

Assim, considero importante que a empresa avalie o grau de maturidade da sua gestão Lean, como forma de verificar a sua prontidão para a indústria 4.0.

Para essa avaliação, achei interessante a ideia apresentada no post que citei acima, que é de um consultor francês, Xavier Perrin. Ele propõe 4 níveis de maturidade e dá um novo significado para “Lean 4.0”, como sendo o nível mais alto de maturidade.

A tabela que segue sumariza os 4 níveis, sendo uma adaptação da que está contida no referido post.

Normalmente, as empresas iniciam sua jornada Lean implementando ferramentas e promovendo a participação dos empregados.

No próximo nível, devem evoluir para uma visão sistêmica das operações, identificando os fluxos de valor, eliminando os desperdícios e criando o fluxo contínuo, o que requer a redução de ciclos e de lotes, o nivelamento da produção e a implementação de supermercados e do sistema puxado.

No nível 3.0, é necessário criar um processo para alinhar os fluxos de valor ao “norte verdadeiro” da empresa, desdobrando a estratégia por toda a organização e criando consenso entre todos os “stakeholders” quanto às metas a atingir.

O nível 4.0 significa que todos na empresa aplicam o pensamento enxuto com naturalidade. Não caem mais na armadilha de aceitar as primeiras ideias e as soluções rápidas, sem embasamento em fatos e dados. Atingir esse comportamento espontâneo exige que os gestores atuem como treinadores de suas equipes e estejam atentos à prática diária de seus liderados.

A indústria 4.0 é uma mudança radical na forma de fornecer produtos e serviços. A natureza das melhorias que se espera obter com suas soluções tecnológicas ficaria restrita aos níveis 1.0 e 2.0 do Lean, com a consequente limitação dos resultados que poderiam ser alcançados.

Assim, me parece fundamental entender o Lean 4.0 como sendo o nível mais alto de maturidade da gestão enxuta da empresa e não fazer uma associação com o aspecto de revolução de práticas da indústria 4.0.

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